Afinal, o que é a Restrição de Crescimento Fetal?
É quando o bebê não consegue atingir todo o seu potencial de crescimento dentro do útero. E isso acontece, em grande parte dos casos, por causa de uma insuficiência placentária.
Ou seja: a placenta começa a “falhar” na entrega de nutrientes e oxigênio, o ambiente intrauterino se torna hostil e o bebê, naturalmente, desacelera o crescimento. E a gente sabe que isso tem impacto direto na vitalidade e na saúde perinatal.
Dois tipos diferentes: e dois desafios também
Temos dois grandes grupos quando falamos de RCF:
- RCF precoce, que acontece antes de 32 semanas
- RCF tardia, que aparece depois de 32 semanas
E aqui já começa a diferença:
- No precoce, a doença placentária costuma ser severa. O bebê, em geral, é pequeno, com biometria bem abaixo do esperado. A centralização fetal é sistêmica. A placenta “deve” comida e oxigênio — e o feto se adapta como pode.
- No tardio, o grande desafio é diagnóstico. Porque o bebê pode ter peso dentro da faixa de normalidade, mas… parou de crescer como deveria.
E é aí que mora o perigo.
O bebê tá no percentil 30. E agora?
Essa é clássica. A gente olha o laudo e vê: peso no percentil 30. Aparentemente normal, certo?
Mas aí você compara com o ultrassom de algumas semanas atrás… e descobre que esse bebê estava no percentil 80. Ou seja: perdeu 50 pontos de crescimento. E isso, gente, é Restrição de Crescimento Fetal tardia.
Ademais, hoje sabemos — com base em estudos recentes e robustos — que quedas de 25 a 50 pontos no percentil estão associadas a:
- Aumento da mortalidade perinatal
- Admissão em UTI neonatal
- Maior chance de parto cesáreo
- Apgar mais baixo
- E até risco aumentado de óbito fetal intraútero, mesmo com peso considerado “normal”
O que muda na conduta?
Muita coisa. Porque quando o peso está normal, a gente tende a “acompanhar”. Mas quando há queda de percentil significativa, temos que investigar e monitorar de perto.
E aqui o Doppler e o Perfil Biofísico Fetal viram protagonistas.
O Doppler vai nos dizer como está a perfusão placentária. E o perfil biofísico fetal, gente, é ouro. Ele nos permite ver, de forma objetiva, se esse bebê está sofrendo ou não.
Ademais, o perfil biofísico é rápido — leva de 5 a 8 minutos — e tem alto valor preditivo. Ou seja: se o bebê está bem no perfil, a chance de estar de fato oxigenado é altíssima. Se está alterado, a chance de acidemia é grande.
Então, o que eu gostaria de deixar aqui é o seguinte:
Nem todo bebê com peso normal está crescendo bem. Nem toda gestação com laudo “dentro do esperado” está livre de risco.
Hoje, olhar a trajetória de crescimento — e não apenas o valor isolado — é essencial. E isso muda a forma como a gente conduz o caso, orienta os pais e decide o momento ideal para o parto.
Porque no final das contas, o que a gente quer é isso: garantir que esse bebê tenha a melhor chance possível de nascer bem e saudável.